História
A Banda foi fundada em 1905, sob a alcunha de Corporação Musical Santa Cecília, no então Arraial de São João do Morro Grande.
A iniciativa de reunir um grupo de músicos coube ao pároco da matriz de São João Batista, Padre Antônio Maria Telles de Menezes, que convidou um grupo de músicos que tocavam instrumentos nas cerimônias religiosas e cantavam no coro da Igreja, somando cerca de 16 pessoas no total.
A imagem ao lado é considerada o primeiro registro fotográfico da Banda Santa Cecília.
A diretoria era formada pelos senhores João Ângelo Pereira (Presidente), João Henrique Ângelo (Tesoureiro) e Francisco Avelino Soares (Mestre-Regente).
Assim foi constituída a Banda, que a partir de então, passou a animar as solenidades da cidade. Nos primeiros anos, a atuação da Banda esteve voltada para as festividades religiosas, mas com o tempo, a Banda passou também se apresentar em eventos civis.
Na época, como não havia luz elétrica na cidade, a iluminação do salão de ensaios era feita por meio de lampiões a querosene.
O acervo de partituras começou a ser formado neste mesmo período, datando de 1903 nossa peça mais antiga, denominada Novo Regresso, de autor desconhecido.
Nesta obra, a nomenclatura para indicar a instrumentação está registrada em italiano. Consta que no final do século XIX havia um regente italiano em João Monlevade (cidade vizinha de Barão de Cocais) que pode ter contribuído para a formação do acervo inicial da Banda.
Outra obra de referência do nosso acervo, e também tida como uma das mais antigas, é a Marcha Festiva Coracy, de autor e data desconhecidos. Esta obra foi reescrita por quase todos os regentes da banda e tem sido executada nas procissões religiosas da região por mais de um século, demonstrando sua importância histórica.
Cerca de dez anos depois, em 1915, a Corporação encontrava-se em decadência, mas foi erguida pelo Maestro Compositor João Rosa de Lima, que assumiu a regência trazendo grande prestígio à Corporação.
Com a saída do Maestro João Rosa, motivada pela mudança de cidade, o comando da Corporação passou para o Maestro Alberto Gonçalves. Os maestros que se seguiram foram os senhores José Gomes Gonçalves, Raimundo Vital Francisco e João Marcelino.
Em 1937 assumiu como maestro o músico Odilon Pinto Caldeira, natural de Rio Doce e recém-chegado a Morro Grande (antigo nome de Barão de Cocais). Depois, pelo Maestro José Engrácio Soares e com sua saída em 1946, o cargo foi ocupado pelo clarinetista e regente Iolando José dos Santos.
Iolando dos Santos nasceu em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, em 23 de fevereiro de 1920. Incentivado por seu pai, iniciou seus estudos musicais ainda jovem e, aos 14 anos, já regia sua primeira orquestra. Em 1945, mudou-se para Barão de Cocais para trabalhar na Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas (CBUM), dando início a uma trajetória marcante na música local.
Ao assumir a Corporação Musical Santa Cecília, dedicou-se à composição de diversas peças para a banda, enriquecendo seu repertório com dobrados, marchas e a grandiosa sinfonia “Terra Mineira”, obra que recebeu atenção especial do maestro.
Além de sua atuação como regente, Iolando foi um grande educador, ministrando aulas de música em sua própria casa. Formou uma banda mirim para jovens músicos, preparando-os para, posteriormente, integrarem a banda principal.
Rigoroso e disciplinado, imprimiu um alto nível técnico aos ensaios, elevando a qualidade da banda e resultando em premiações em festivais de música.
O Maestro Iolando dos Santos teve um aluno chamado Odilon Fonseca, o qual ingressou para escola de músicos da Banda Cecília aos seis anos de idade. Por motivos profissionais, mudou-se da cidade e se afastou da associação, mas cultivou uma forte amizade com Iolando, com quem mantinha contato por meio de cartas. Suas cartas, por vezes eram acompanhadas de partituras de obras que compunha e que passaram a integrar o acervo de partituras da banda.
Entre suas composições é possível destacar os dobrados: Maestro Iolando dos Santos, dedicado ao amigo e professor, Triunfo Cocaiense, dedicado à sua cidade natal e Francisco Gonçalves Penido, para homenagear um amigo no dia do nascimento de seu filho.
Em 1950, iniciou-se a construção de uma sede para a Banda que, até então, não possuia espaço próprio e realizava seus ensaios em locais cedidos por músicos da corporação.
O terreno já havia sido adquirido em 1942, pelo então presidente Raimundo Vital. A empreitada contou com o apoio e patrocínio dos benfeitores da Banda, como o engenheiro Alencar Peixoto e também com a colaboração espontânea de diversos músicos, pedreiros e outros apreciadores da entidade.
A sede da Banda foi inaugurada no dia 7 de setembro de 1959.
No dia 29 de junho de 1955 foi aprovado por unanimidade o Estatuto da Corporação, em reunião extraordinária como a presença de 28 músicos.
O Estatuto foi impresso para distribuição aos músicos, no qual consta a troca do nome da entidade de Corporação Musical Santa Cecília para Banda de Música Santa Cecília de Barão de Cocais, nome que permanece até os dias de hoje.
A Banda de Música viveu o seu apogeu nesta década (entre os anos de 1950 e 1960), quando reuniu cerca de 80 músicos. O ex-cabo da Banda de Música Militar do Exército em Belo Horizonte, o empresário José Gomes Gonçalves, que implantou a disciplina militar entre os músicos da Banda e também financiou o seu uniforme inspirado em trajes militares.
No dia 12 de julho de 1961 foi fundado o Coral da Banda de Música Santa Cecília, cuja estreia ocorreu no dia 26 de novembro, em missa cantada em homenagem à padroeira da entidade, na Igreja Matriz. A diretora e regente do coral era a senhora Lígia Batista. Em 1974, Dona Lígia renunciou ao cargo após 13 anos à frente da entidade. Confira a história completa do coral aqui.
Iolando dos Santos esteve a frente da Banda como maestro até 07 de setembro de 1977, quando, por motivos de saúde, precisou se afastar e faleceu dois anos depois, em 27 de maio de 1979.
A regência da banda passou ao maestro Raimundo Santiago Pereira, integrante do corpo de músicos desde 1941 como trombonista.
Raimundo Santiago, assim como Iolando, foi um grande compositor da nossa terra. Suas obras abrangeram gêneros tradicionais de banda como dobrados, valsas, marchas festivas e fúnebres e ele homenageou pessoas ilustres e músicos da banda, dando seus nomes às suas composições.
Em 1985, a banda lançou o LP “Banda de Música Santa Cecília de Barão de Cocais”, contendo quatro músicas: os dobrados “Raimundo Vital” e “J.D. Vital”, além das peças “No Tempo da Onça” e “Lira Musical Pedro Salgado”.
O Maestro Raimundo Santiago, após mais de 60 anos de dedicação à Banda, faleceu em 5 de outubro de 2004. Seu legado permanece vivo e é até hoje lembrado e valorizado por todos os integrantes.
Com sua partida, o músico Antônio Adão do Carmo, membro da banda, assumiu a regência como novo maestro.
Em 2006, a sede da banda foi reformada e ampliada pela diretoria, então liderada pelo presidente J. D. Vital. O prédio recebeu salas de aula, salão de concertos, banheiros, sala de instrumentos e uma área de churrasco e lazer.
Neste mesmo ano, a Banda foi agraciada com um curso de aprimoramento de técnicas musicais, oferecido pela Universidade Federal de São João Del Rei.
O professor que ministrou o curso, o jovem músico flautista Alexandre Luiz Lacerda, foi convidado pela banda para assumir a função de Maestro.
Aceitando o convite, o novo Maestro mudou-se para a cidade de Barão de Cocais no ano seguinte.
Sob a sua regência, a antiga Banda Mirim foi reativada, com a denominação “Orquestra de Flauta Doce”, fundada em 2007. A iniciativa foi motivada pela necessidade de formar jovens músicos que pudessem futuramente compor a Banda, assim como idealizado pelo Maestro Iolando José dos Santos em 1947.
Em 2009 foi gravado o CD “Dobrados e Marchas”. No ano seguinte foi realizado um projeto para edição de um DVD e a publicação do livro “Novo Regresso”, contemplado pelo Fundo Estadual de Cultura da Secretaria de Estado de Cultura Minas Gerais. O Projeto foi finalizado em 2012.
Em 2014, o Coral foi reativado com a denominação Coral Maestro Iolando dos Santos. A maioria dos membros era composta por cantores que participaram do coral sob a regência da maestrina Lígia.
O coral, assim como a própria banda, permaneceu sob regência do ex-maestro Alexandre Lacerda até dezembro de 2020.
Com o início da pandemia de Covid-19 em 2021, a banda e coral suspenderam suas atividades seguindo as recomendações e protocolos de distanciamento e isolamento para evitar o contágio e a disseminação da doença.
Em outubro deste mesmo ano, a banda retomou suas atividades através do projeto “Banda em Aquecimento”, sob a coordenação do maestro Cleisson José. Este projeto durou até dezembro de 2021.
No inicio de 2022, a regência da Banda foi assumida pelo maestro João Carlos Angelo, que permanece no cargo até os dias atuais.
Após a pandemia, o coral foi reativado em novembro de 2022, desta vez com a entrada de novos membros e sob a regência da maestrina Poliana Viana, que ainda ocupa a função. Nesta retomada, criou-se também o coral infantojuvenil de mesmo nome.
Ao longo de mais de um século de existência, a Banda de Música Santa Cecília não apenas preservou a tradição musical em Barão de Cocais, mas também se tornou um pilar cultural e social na comunidade. O legado deixado pelas gerações de músicos inspira e educa novos talentos, garantindo que a paixão pela música continue a florescer. Com olhos voltados para o futuro, a banda mantém seu compromisso de promover a música e a cultura, perpetuando a história e o espírito que a fundaram em 1905.